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  • Foto do escritorRoney Souza

As aves e seus pés. Classificação quanto à disposição de dedos

Atualizado: 28 de abr. de 2022

Uma ave que não esteja bem adaptada ao ambiente onde vive e à atividade que exerce dentro desse ambiente (nicho) está com pés e mãos quebrados (ou pés e asas?).

Características bem marcantes que nos dão uma pista de como determinada ave vive, sem mesmo conhecê-la, são os tipo de bico e pés. Vamos falar aqui dos vários arranjos dos dedos nos pés das aves, tornando cada tipo de pé único e adaptado a certa forma de vida:

Anisodáctilo

A disposição mais comum e conhecida é do pé anisodáctilo, onde três dedos são dispostos para frente e um, o hálux (ou dedão), que é o primeiro, fica em posição contrária, voltado para trás. Está presente em todos os Passeriformes, nas aves de criação, como galinhas, patos, codornas, etc. Essas aves têm a capacidade tanto de andar sobre o solo quanto de se empoleirar em galhos e fios.

Ao ver uma andorinha pousada em um fio tirando um cochilo sem se preocupar com o equilíbrio, às vezes ficamos perplexos. Como as aves fazem isso? Estão brincando com a física? Regulam o centro de gravidade tão bem a ponto de ficarem completamente equilibradas? Ou será que seguram tão firmemente ao fio mesmo no relaxamento do sono?

O músculo responsável pelo fechamento dos dedos das aves apresenta um tendão que passa por trás da articulação do tarso (canela) com a tíbia (coxa), no tornozelo. Quando a perna é dobrada, esse tendão é esticado e automaticamente fecha e trava os dedos. A ave, então, pode dormir sossegada sem ter medo de cair durante os sonhos.

Etimologia do termo anisodáctilo: do grego ánisos(desigual) e dactylos(dedo), significando dedos desiguais, referindo-se à distribuição desigual dos dedos: três para frente e apenas um para trás.

pés anisodactilos

Zigodáctilo

Papagaios são admirados pela alta capacidade de imitar os sons humanos, mas uma característica verdadeiramente interessante que eles têm e que talvez ninguém dê muita importância, apesar de perceber, é o fato de os dedos terem uma disposição diferente dos pés de uma galinha, por exemplo. São os chamados pés zigodáctilos, onde dois dedos – o segundo e o terceiro – são dispostos para frente e dois – o hálux (primeiro) e o quarto – são direcionados para trás.

Quais são as vantagens de se ter um pé diferente assim? Bem, papagaios são capazes de trepar em galhos e grades que outras aves, de pés anisodáctilos, não conseguem. Também são capazes de pegar alimento com os pés, utilizando-os como verdadeiras mãos, e levá-lo à boca. Isso é facilitado também pelo comprimento bem curto da perna.

Outra adaptação de pés zigodáctilos é vista nos pica-paus, que são capazes de subir em troncos e barrancos verticais com grande maestria, utilizando-se dos dois dedos voltados para trás para se apoiar. Também as penas da cauda deles são bem rijas e ajudam nessa façanha. Esse tipo de pé ainda está presente em aves como tucanos e joão-bobo, dentre outras.

Etimologia do termo zigodáctilo: do grego zygón(par) e dactylos(dedo), significando dedos pareados, referindo-se à distribuição pareada dos dedos: dois para frente e dois para trás.

pés zigodactilos

Heterodáctilo

Pés heterodáctilos apresentam dois dedos para frente e dois para trás. Mas, isso não é a mesma coisa do anterior? Calma, tem uma grande diferença. E essa diferença reside em quais dedos são direcionados para onde. No caso do pé heterodáctilo, o primeiro e o segundo dedos estão voltados para trás; o terceiro e o quarto estão voltados para frente. É um pouco bizarro: é como se os pés estivessem apontando um para o outro.

Têm pés bizarros assim algumas das aves mais exuberantes das florestas tropicais: os surucuás. Suas cores nos deslumbram. Podem ser vistos aproveitando a fartura das fruteiras, exibindo sua exuberância e escondendo, numa característica bem inconspícua, uma bizarrice que os torna ainda mais interessantes.

Etimologia do termo heterodáctilo: do grego héteros(outro, diferente) e dactylos(dedo), significando dedos diferentes, referindo-se à distribuição pareada, como no zigodáctilo, porém com conformação diferente (os dedos pareados não são os mesmos).

pés heterodactilos

Pamprodáctilo

Os andorinhões são aves de colorido simples e vida oculta nas partes sombrias das cachoeiras, pousados nas pedras verticais por trás do véu das torrentes, ou no mais alto dos céus, voando com extrema maestria à procura de insetos. Uma das caraterísticas peculiares desses bichos são os pés, que lhes permitem empoleirar nas pedras verticais e serem incapazes de fazê-lo em galhos finos e fios como as outras aves.

Esses pés bizarros, chamados de pamprodáctilos, têm dedos – primeiros e quartos – que podem ser revertidos e se voltarem todos para frente quando a ave pousa nas rochas. Com todos os dedos direcionados para frente, a ave tem uma grande capacidade de se manter agarrada em posição vertical onde as águas tornam o substrato escorregadio.

Etimologia do termo pamprodáctilo: do grego pan(tudo), pro (para frente) e dactylos(dedo), significando todos os dedos para frente.

pés pamprodáctilos

Sindáctilo

Pés sindáctilos podem apresentar conformações zigodáctila ou anisodáctila. A sindactilia é uma característica adicional em que dois ou mais dedos são total ou parcialmente fundidos, às vezes apenas ligados por uma membrana. A característica está presente, por exemplo, nos Galbulidae (arirambas e afins). O cuitelão (Jacamaralcyon tridactyla) leva a característica a um nível ainda mais longe, com a perda de um dos dedos. Como o próprio nome diz (tridacyla= três dedos), a espécie apresenta apenas três dedos em vez de quatro em cada pé. A sindactilia torna o pé mais sólido e permite a esses animais cavarem utilizando os pés como pás. Assim, podem criar um túnel num barranco, onde fazem o ninho e criam seus filhotes.

Etimologia do termo sindáctilo: do grego sin(unido) e dactylos(dedo), significando dedos unidos, referindo-se à fusão total ou parcial de alguns dedos.

pés sindactilos

Referências bibliográficas:

  1. Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.

  2. Jobling, J. (2010) Helm Dictionary of Scientific Bird Names: EBSCO ebook academic collection

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