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  • Foto do escritorRoney Souza

#3 Coleta de Campo – Taocas: As incríveis formigas correição

Atualizado: 22 de jun. de 2022

Caminhando na mata, de repente ouve-se estalidos no folhiço, como se um fogo invisível consumisse o sub-bosque diante de nossos olhos. Não demora muito para percebermos que uma horda de formigas ocupa todo o chão, e mesmo galhos e troncos, em um frenesi incrível. São as taocas, ou formigas-de-correição. Carnívoras, elas varrem o sub-bosque atacando tudo o que se move.


Essas formigas não têm formigueiro; são nômades, forrageando em um local até que esgotem os recursos para então se mudarem para um novo sítio da floresta. Para protegerem a importante e soberana rainha, fonte de todas as formigas da colônia, e os indefesos ovos e larvas, as operárias montam com seus próprios corpos uma fortaleza, chamada ninho ou bivaque.


O bivaque é constantemente transferido de um local a outro, sendo que a colônia necessita se mudar quando a porção de mata onde estão já foi completamente explorada. Elas seguem assim um ciclo com fases estacionárias e fases errantes. É na fase estacionária que os ninhos são formados e permitem um período reprodutivo. Nesse período, as formigas lançam uma frente de caça a cada dia para uma direção diferente em volta do bastião que abriga o centro da colônia.

Durante sua estadia em um determinado local, essas formigas comem tudo que não conseguir fugir de suas cortantes mandíbulas. Andam pelo chão, sobem em galhos e troncos inspecionando tudo, atravessam riachos. Se usam o próprio corpo para fazerem a própria casa, qual dificuldade encontrariam em usá-lo para fazer uma ponte? São dinâmicas. Seus corpos unidos podem transformá-las na estrutura que precisarem no momento.


As colônias são divididas em castas, onde cada formiga tem sua tarefa. As menores cuidam das obrigações de caça e transporte das presas até o bivaque e de cuidar das larvas e ovos. Os grandes soldados, armados com mandíbulas enormes, se põem ao longo das trilhas e frentes de caça e no ninho para proteger toda a colônia. As espécies mais comuns e conhecidas são Eciton burchellie Labidus praedator.


Ao passar a horda de formigas como um exército bem armado, tudo que pode fugir o faz. Baratas, aranhas, escorpiões, besouros e outros animalejos deixam o folhiço em desespero para escaparem da morte iminente: ou foge ou vira comida. Isso faz a floresta fervilhar. Esse êxodo de presas atrai predadores, inevitavelmente: os seguidores de correição.


Os mais conspícuos seguidores são, claro, as aves. Essas fazem uma algazarra e se alimentam numa agitação incrível. As famílias mais encontradiças nesses banquetes fartos são Thamnophilidae, Formicariidae, Dendrocolaptidae e Cuculidae. Essas aves espreitam as presas que fogem espavoridas a partir de um galho próximo ao solo, troncos ou mesmo correndo pelo chão. As chocas geralmente ocupam os poleiros horizontais, enquanto que os arapaçus utilizam os verticais e os troncos das árvores. Tovacas e jacus-estalo andam pelo solo. Algumas dessas espécies também costumam seguir bandos de macacos, suínos e, em condições oportunas, máquinas humanas, sempre com o mesmo intuito de capturar os animalejos que estão sendo perturbados em seu ambiente e têm que se expor perigosamente para fugir.

Taocas Formigas-correicao aves seguidoras seguindo correição - Jacu-estalo galinha-do-mato papa-taoca

Algumas espécies de aves são conhecidas como seguidores profissionais de correições. Geralmente são espécies de maior porte que necessitam seguir as taocas para obter alimento suficiente. Essas espécies têm características peculiares e mesmo comportamentos e modo de vida associados à atividade de seguir as formigas. Frequentemente defendem territórios extensos para albergar um maior número de correições e apresentam uma elaborada hierarquia.


Costumam transpor as fronteiras dos territórios no ato de acompanhar o banquete. Nessas ocasiões, os donos do território são sempre dominantes sobre os co-específicos. E, é claro, espécies maiores costumam ser dominantes sobre espécies menores, ocupando os centros mais movimentados da correição.


Também existem os seguidores ocasionais, que não necessitam das taocas para obterem o alimento, mas podem se aproveitar delas para o obterem com maior facilidade. É o caso de muitos Tinamidae, Cracidae, Psophiidae e Thraupidae. Os últimos são mais abundantes onde não existe a competição das chocas, geralmente em latitudes mais altas. As formigas ainda podem ser seguidas por animais como lagartos e macacos.


Mas, o mais interessante é que, assim como os passarinhos se aproveitam das formigas por exporem suas presas, os seus predadores aproveitam-se das formigas por congregarem sua caça. Gaviões e falcões se beneficiam do movimento tanto para capturar insetos quanto para capturar as aves. Toda essa movimentação de presas, predadores e predadores de predadores oferecem oportunidades para diversas outras espécies, como moscas parasitas, borboletas que se alimentam de dejetos de aves e mesmo pássaros que encontram ali um ambiente mais protegido, com muitos olhos atentos para avistarem seus predadores e darem o alarme.


As correições são, à primeira vista, simples êxodos de formigas que caminham desnorteadas pelo folhiço, mas esse exército em marcha tem o poder de movimentar toda a floresta e influenciar as dinâmicas de populações, diversidade e comportamentos dos mais diversos habitantes das matas tropicais. As taocas controlam a vida e a morte, fazendo-as conviverem e se equilibrarem durante sua passagem.


Referências bibliográficas:

  1. Willis, Edwin O., Oniki, Yoshika, Aves seguidoras de correições de formigas nas Américas e ÁfricaRevista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa [en linea] 2008, II (Marzo-Agosto) : [Fecha de consulta: 24 de julio de 2017] Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=87912341018> ISSN 1980-7686

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