O jaó-do-litoral ou jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus) [01] é uma ave da família Tinamidae, família de aves terrícolas e bem furtivas, que quase nunca deixam ser vistas.
Na maioria das vezes, apenas se ouve seu canto grave, melódico, por vezes um tanto melancólico, viajando livremente pela intrincada ramaria dos bosques, ou as notas agudas e penetrantes como cricrilar de grilos das espécies campestres, que se ocultam no capim para se exibir apenas sonoramente.
Discretas, essas aves preferem se esconder a voar ou correr para escapar de predadores. Ao se sentir ameaçados, mobilizam-se instantaneamente de pescoço ereto, parte posterior do corpo levantada e peito baixado, espreitando imóveis geralmente camuflados entre a vegetação. [05]
Persistindo o perigo, posicionam suas asas entreabertas para trás e fogem rapidamente pelo solo da floresta, alçando voo apenas em último caso. Confiantes em sua plumagem discreta, por vezes esperam ser quase pisados por um humano, e só então deixam a posição de defesa em um voo estrondoso que desarma qualquer desavisado, daí o nome “inhambu”, que vem do tupi e significa “aquele que sai com estrondo”.
Em voo, fatigam-se muito facilmente devido ao peito de carne branca esverdeada muito pouco irrigada e ao coração assaz pequeno. A musculatura é, contudo, abundante e proporcionaria bom voo, não fosse tão pobremente abastecida de oxigênio. A plumagem é fraca e se solta ao menor impacto ou esfregação; tal-qualmente frouxa é a carne.
Quando caminham sobre o folhiço seco que cobre como um manto mórbido o solo da floresta, ouvem-se os estalidos dos passos furtivos. Tem voz grave e cheia, sendo a da fêmea de mais baixa frequência e volume, audível apenas a pouca distância. Seu canto [04] melodioso, tal qual o do macuco (Tinamus solitarius), é uma adaptação ao ambiente em que vivem: floresta densa repleta de obstáculos que impedem a livre propagação das ondas sonoras. São aves de intensa atividade vocal, sobretudo nas primeiras horas da manhã.
(Jáó-do-sul – Crypturellus noctivagus – em Parque Estadual do Rio Doce, por Wagner Nogueira)
Comem frutas, sementes e insetos, especialmente besouros e formigas, encontrados quando esgravata com o bico a serrapilheira, troncos caídos e o solo. Reproduzem-se em novembro. Assim como em outros tinamídeos, a fêmea é o sexo dominante. É ela quem escolhe e defende o território e atrai os machos.
Feita a postura, a fêmea deixa todos os cuidados sob responsabilidade do companheiro que, zeloso, sempre ao deixar o ninho – situado geralmente ao sopé de árvores de raízes tabulares – cuida de camuflar seus ovos entre a serrapilheira, cobrindo-os com folhas. A fêmea, por sua vez, o deixa para, em seguida, encontrar outro território e outro macho, que chocará e cuidará de sua próxima ninhada. Para cada um deles, ela terá posto quatros ovos de coloração azul turquesa brilhante [06], jazendo como joias raras no pardo monótono do chão da mata; os pintos pipilantes e bem camuflados eclodem em 17 dias [02].
Ocorre no Brasil oriental da Paraíba ao Rio Grande do Sul. Habita o interior de matas primárias ou secundárias e matas secas na Caatinga (Crypturellus noctivagus zabele) [03]
Referências bibliográficas:
Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 862p.
Cabot, J., Christie, D.A., Jutglar, F. & Sharpe, C.J. (2017). Yellow-legged Tinamou (Crypturellus noctivagus). In: del Hoyo, J., Elliott, A., Sargatal, J., Christie, D.A. & de Juana, E. (eds.). Handbook of the Birds of the World Alive. Lynx Edicions, Barcelona. (retrieved from http://www.hbw.com/node/52427 on 25 April 2017).
2010. Yellow-legged Tinamou (Crypturellus noctivagus), Neotropical Birds Online (T. S. Schulenberg, Editor). Ithaca: Cornell Lab of Ornithology; retrieved from Neotropical Birds Online: http://neotropical.birds.cornell.edu/portal/species/overview?p_p_spp=59156
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