A mais leve silhueta não passa despercebida àqueles olhos enormes que, de tão grandes, têm movimento extremamente limitado. Do interior do disco facial, fitam as presas e deslizam furtivamente pela negritude como fantasmas da noite. Para compensar a reduzida mobilidade das órbitas, as corujas usam o pescoço bastante móvel para sondar as redondezas.
O pescoço das aves, por estar ligado com maior liberdade ao crânio, já tem uma flexibilidade bem maior do que aquele dos mamíferos. Em vez de dois côndilos occipitais, as aves possuem apenas um. Em uma analogia didática, é como pendurar um quadro à parede com um prego no meio em vez de um em cada extremidade. As corujas levam isso um pouco além. Elas têm o pescoço realmente muito móvel e quase dão volta completa. Isso já seria uma característica incrível por si só, mas ainda há revelações que poderão te deixar boquiaberto.
É claro que girar o pescoço não depende só do esqueleto. Esse representa apenas o eixo central da estrutura. Músculos, pele, nervos e vasos sanguíneos formam uma cobertura que poderia limitar muito esse movimento. E é em relação a vasos sanguíneos que as corujas possuem uma carta na manga. Torça uma mangueira e o fluxo de água dentro dela será bloqueado. Condições análogas acontecem com os vasos sanguíneos no pescoço de uma coruja quando essa o gira a ângulos elevados. Bloquear esses vasos sanguíneos implica em estorvar a irrigação e oxigenação do cérebro, o que não seria nada agradável. Mas essas aves sabem burlar os problemas: elas apresentam cópias de segurança desses vasos sanguíneos, que são usadas nesses momentos.
A escuridão da calada da noite guarda segredos incríveis e seres esdrúxulos. Parece que a força do luar não só é capaz de criar terrores e uivos de lobos, mas também de alimentar superstições vivas e adaptações extraordinárias.
Referencia Bibliográfica:
JORGE, J. DE. “Cómo los búhos pueden girar la cabeza hasta 270º sin troncharla”. Disponível em: <http://www.abc.es/ciencia/20130131/abci-como-buhos-pueden-girar-201301311429.html>. Acesso em: 16 ago. 2017.
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