Um bando errático de pássaros anegrados maculam e riscam o azul penetrante do lábaro de verão. São os mais habilidosos voadores que os céus são orgulhosos de apresentar. Têm no ar o seu leito e no vento a sua vereda. Seu rosto está constantemente arrefecido pela brisa fresca das alturas e suas asas cortam a atmosfera como lâminas afiadas, sustentando-os acima dos outeiros com a leveza de algodão e a aerodinâmica de mísseis.
Em sua eterna rota,rabiscando com destreza a abóbada celeste, esses pássaros capturam constantemente o plâncton aéreo, com a maestria de cardumes de arenques nas aparatosas águas de branda temperatura dos mares temperados. Comem animalejos diversos que viajam nas asas do vento, como insetos alados e mesmo pequenas aranhas, incríveis viajantes de paraquedas.
Algumas espécies realizam migrações intercontinentais, cruzando a bruma do mar alto e voando dia e noite sem parar. Essas avezinhas não precisam de descanso. Podem voar até duas estações sem pousar. Dormem deitados ao vento, sendo acariciados pelos tufões das tempestades. Quando o céu se enegrece e pesadas nuvens descem ameaçadoramente, liberando energia, luz e ruído, lá estão as aves do temporal, deleitando-se com o mau tempo e furando os pés de vento prazerosamente.
São aves de extremos. Têm prazer nas adversidades. Não só as águas da chuva lhes trazem regozijo. Por trás do véu das cascatas, dependurados em cachos nos rochedos verticais molhados constantemente pelo eterno sereno, lá estão eles, com plumagem cinzenta, de aparência grotesca e obsoleta. No crepúsculo, vê-se o voo acrobático e magistral dos enormes bandos contra o rubor do sol poente, seguindo a melodia do turbilhão das cataratas. Cortam com aventuroso adejo a cortina das perigosas cachoeiras como se apenas atravessassem os umbrais de suas confortáveis moradas. Os pés são capazes de se empoleirar nas pedras verticais e incapazes de fazê-lo em galhos finos e fios como os outros pássaros. São mesmo aves insólitas.
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